Iarodi D. Bezerra*
Nunca gostei de ingerir nada muito quente, acho que asensação de perder o paladar é horrível. Lembro com dor as muitas vezes que queimei a língua, mas em todas as vezes eu estava com pressa.
A pressa é um movimento estranho do ser humano, nos faz acelerar sem nenhuma eficácia positiva. Esses dias li uma frase em uma rede social que dizia assim: “Pé que pisa em brasa aprende que nem todo caminho é luz”. E a pressa é bem isso: um caminho feito por brasa que se traveste de “caminho de luz”. Ela, instiga a acelerar, mas nos tira os perigos da nossa frente e quando a tragédia acontece…não tem mais volta!
O comer com pressa nos ensina isso. A pressa para cumprir algum compromisso nos leva a adiantar a comida que acabaram de sair do fogo direto para o prato, colocamos na boca , daí é só baforadas e água gelada para aliviar, mas no fim, sobra-se a insensibilidade local, a fome e o mau humor.
Perde-se muito quando vivemos sob a tirania da pressa. Atropelamos além da nossa essência, também a clareza, o prazer e a paciência, trocando-os por insensibilidade e mau humor
Vivemos sob várias facetas da pressa. Os transtornos de ansiedade nos mostra que a pressa é a grande mente criminosa por trás dos sintomas. Tenho pressa para chegar, para ficar rico, para acabar o ano letivo, para amar, para resolver uma pendência.
Existe um livro chamado “Não apresse o rio, ele corre sozinho”, da psicoterapeuta Berry Stevens. Ele é um convite à desenvolvermos a paciência diante do processo, sobretudo das coisas da vida, ao ser autêntico em meio ao massacre do olhar do outro. Ela aponta para a resignação da natureza em seguir seu curso, sem pressa, apesar da humanidade.
Perde-se muito quando vivemos sob a tirania da pressa. Atropelamos além da nossa essência, também a clareza, o prazer e a paciência, trocando-os por insensibilidade e mau humor.
Porém, toda mudança começa em gestos pequenos, mas conscientes. Foi por isso que, em uma manhã, diante de uma caneca com café quente, e olhando para o relógio — que me revelava o atraso para ir ao consultório —, tomei a melhor decisão daquele momento: assoprar o café até atingir a temperatura agradável! Foi mais que um cuidado fisiológico, foi o resgate do meu ritmo, um ritmo ditado por mim.
- Iarodi D. Bezerra é Psicoterapeuta. Atua no atendimento infanto-juvenil e de adultos. Facilitador de grupos de psicoterapia.
-
Leia também: A vida é para se viver!

















De fato, a pressa do dia a dia tem instalado em nós uma ansiedade, e suas consequências.
Precisamos, vez por outra, tomar um café sem soprar, olhando pra sua espuma e se deliciando com esse momento.
Belo texto, cabe a reflexão.
Boa Tarde!!
Iarodi D. Bezerra, sempre fala a nossa alma.
O texto é de uma vedade que nos constrage.
Parabéns