A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa Selic em 15% ao ano provocou forte reação da indústria nacional. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), a manutenção dos juros em patamar elevado é tecnicamente equivocada, economicamente injustificável e agrava a desaceleração da economia brasileira.
A CNI classifica a decisão como “insuficiente e equivocada” diante de um cenário que exige estímulos ao crescimento. Segundo a entidade, a política monetária atual é excessivamente contracionista, com juros reais de 10,1% ao ano – mais de 5 pontos percentuais acima da taxa neutra estimada pelo próprio Banco Central. A entidade lembra que o Brasil ocupa hoje a segunda posição entre as maiores taxas de juros reais do mundo, atrás apenas da Turquia.
“Já tivemos o aumento do IOF sobre as operações de crédito e câmbio e a elevação das tarifas dos EUA sobre as nossas exportações. A alta do IOF sobre o crédito vai aumentar em R$4,9 bilhões o custo para as indústrias, enquanto as tarifas dos EUA podem causar queda na produção industrial e a perda de milhares de empregos no país. O momento pede uma política monetária mais favorável. Precisamos de menos juros e mais crescimento”, aponta o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A Fieb vai além e considera a decisão “politicamente irresponsável”. Para a federação, a insistência do BC em manter juros altos ignora a trajetória de queda da inflação, os avanços fiscais e o enfraquecimento da atividade produtiva, especialmente da indústria. “Manter a Selic em 15% é um entrave deliberado ao desenvolvimento”, afirma a entidade em nota.
Os efeitos já são sentidos no custo do crédito e na desaceleração dos setores produtivos. Entre setembro de 2024 e junho de 2025, os juros médios para empresas subiram de 20,6% para 24,3% ao ano, enquanto os consumidores passaram a pagar, em média, 58,3% ao ano. A elevação compromete investimentos, reduz o consumo e trava a atividade econômica. Dados do IBGE mostram queda de 1,2% na produção industrial e retração de 1,6% nas vendas do varejo nos dois primeiros meses do segundo trimestre.
Prévia do PIB
A desaceleração também é confirmada pelo IBC-Br, prévia do PIB, que recuou 0,74% em maio. Ao mesmo tempo, os indicadores inflacionários seguem em queda: o IPCA caiu de 1,31% em fevereiro para 0,24% em junho, puxado por alimentos e bens industriais. O Relatório Focus do BC registra nove semanas consecutivas de revisão para baixo da inflação projetada para 2025, atualmente em 5,1%.
A indústria também alerta para o impacto adicional das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, que devem afetar exportações e empregos. Para a CNI, o momento exige “menos juros e mais crescimento”. A Fieb reforça que, diante de um cenário global adverso, o país precisa de estímulos à competitividade, não de obstáculos.
Ambas as entidades cobram do Copom uma mudança de postura já na próxima reunião, com início imediato de um ciclo de cortes na taxa básica. Para o setor industrial, a política monetária atual não só está descolada da realidade, como compromete a retomada do crescimento e a geração de empregos no país.
Leia também: Piracanjuba completa 70 anos com portfólio diversificado e olhar no futuro















