Iarodi D. Bezerra*
No último fim de semana, fui à festa de comemoração dos oitenta anos de uma pessoa muito querida: Dona Zezé.
Cheguei atrasado — bem na hora das homenagens. E lá estava ela: sentadinha, serena, escutando as palavras afetuosas que filhos, netos, genros e amigos lhe dedicavam — palavras merecidas.
Entre todas, uma se destacou, realçando um traço de sua alma: a suavidade.
“Dona Zezé é suave.” Escutar isso me atravessou. Então perguntei a mim mesmo: como ser igual a ela?
A resposta foi clara: ser como ela é inviável. Dona Zezé é um daqueles raros seres humanos que carregam dentro de si um espírito poderoso — e emanam, sem esforço, as virtudes que Deus lhes concedeu. De sua boca saem palavras tão leves e afáveis que são capazes de abrandar tempestades no coração de quem a procura.
No livro de Provérbios tem um versículo que parece ser o lema da bandeira que ela carrega:
“A resposta branda desvia o furor.”
Escutar sobre Dona Zezé me fez enxergar além. Em como deveríamos colocar só “ser suave” como meta para a preservação da espécie — seria um exercício eficiente e transformador: do despertar ao adormecer; o lidar com os problemas cotidianos, enfrentar os dias de sol e ou noites frias; alegrar-se na bonança e descansar na falta…ser suave.
E Dona Zezé é isso: um fenômeno da natureza, apesar da fragilidade do corpo. Com suas asas suaves movem o invisível impactando gerações
Quem sabe até transformar isso em matéria escolar, ensinando desde cedo o poder preventivo da suavidade para a saúde da alma? Mostrar às crianças que o ser suave muda a textura da vida — aplaca o mau humor, dissolve a palavra rude que é capaz de transformar florestas em desertos.
Biologicamente a suavidade d’alma tem efeito antioxidante poderoso contra gente tóxica.
Voltando àquela noite de festa — quem recebeu o presente fui eu: inesperado, discreto, mas imenso. Tive a alegria de testemunhar um raro fenômeno: o efeito borboleta. (Esse fenômeno, dizem, começa com o leve bater de asas de uma borboleta, mas é capaz de provocar mudanças significativas — como um furacão, em algum lugar distante.)
E Dona Zezé é isso: um fenômeno da natureza, apesar da fragilidade do corpo. Com suas asas suaves movem o invisível impactando gerações.
Desde aquela noite dedicada a ela, tenho pensado em meus próprios oitenta anos.
O que dirão meus filhos? Meus netos? Meus amigos?
Por isso, antes de dormir, tenho orado a Deus para que me conceda, nos próximos trinta e sete anos, o mesmo par de asas que deu a Dona Zezé.
Talvez então, na noite dedicada a mim, alguém possa dizer:
“Ele é suave.”
- Iarodi D. Bezerra é Psicoterapeuta. Atua no atendimento infanto-juvenil e de adultos. Facilitador de grupos de psicoterapia.
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Ser suave como D. Zezé é um grande desafio nesse mundo que tem pressa, somos atropelados diariamente pela falta de sossego e suavidade. Mais seguimos acreditando que nos nossos 80 anos, as palavras de celebração serão as mais lindas, mesmo que não seja só sobre ser suave.