A alta do preço dos alimentos e da energia e as incertezas em torno da economia global fizeram o Banco Central (BC) aumentar mais uma vez os juros. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou, nesta quarta-feira, a taxa Selic, juros básicos da economia, em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano. A decisão do BC foi duramente criticada por entidades do setor industrial, a exemplo da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Para Fieb, a alta representa um aperto monetário excessivo, que dificulta a recuperação econômica e impõe desafios adicionais ao setor produtivo. O patamar elevado da taxa de juros desestimula investimentos, reduz a competitividade da indústria e impacta negativamente a geração de emprego e renda.
A taxa de juros real no Brasil, acima de 9% ao ano, permanece entre as mais altas do mundo, em um cenário no qual a inflação acumulada em 12 meses está em 5,06%, levemente acima do teto da meta.
“A Fieb reforça a necessidade de uma reavaliação da política monetária, com o início de um processo gradual de redução da Selic, de forma coordenada com o ajuste fiscal. Uma política de juros mais equilibrada, aliada a um compromisso firme com a responsabilidade fiscal, é essencial para impulsionar os investimentos, fortalecer a competitividade da indústria e enfrentar os desafios socioeconômicos do país”, afirmou a entidade, em nota.
CNI
Já a CNI considera que a elevação de um ponto percentual (p.p.) da taxa básica de juros não é necessária para controlar a inflação e prejudicará o ritmo de crescimento da economia. “O nível atual da Selic, que implica taxa de juros real de 8,5% a.a. (3,5 p.p. acima da taxa neutra estimada pelo Banco Central), já tem impactado fortemente a economia, que apresenta desaceleração mais aguda do que a prevista, tanto pela CNI, como por diversos analistas econômicos. Essa desaceleração intensa da economia já seria suficiente para controlar a inflação”, avalia Ricardo Alban, presidente da CNI.
Na avaliação da CNI, a perda de fôlego econômico já influencia as expectativas em torno da inflação. De acordo com a pesquisa Focus, do Banco Central, a inflação esperada para os próximos 12 meses passou de 5,49%, na mediana apurada em 28 de fevereiro, para 5,23%, na mediana apurada em 14 de março. O ponto central da mudança foi o PIB do último trimestre de 2024, que cresceu bem abaixo do esperado.
Além disso, o aperto monetário em curso já se traduz em aumento efetivo da taxa de juros dos tomadores de crédito. Em setembro de 2024, quando o Copom começou a aumentar a Selic, a taxa de juros média era de 27,54% a.a. Em janeiro de 2025, passou para 29,82% a.a. A CNI ressalta que os efeitos das quatro altas da Selic sequer tinham se materializado plenamente, uma vez que há uma defasagem temporal entre a alteração nos juros básicos e o impacto na economia.
Juros mais altos significam crédito mais caro para as empresas e os consumidores. No caso das empresas, inviabilizam investimentos e dificultam o acesso a recursos de capital de giro essenciais para as necessidades do dia a dia. Com isso, as empresas crescem menos e criam menos empregos, prejudicando a população. No caso dos consumidores, os juros altos encarecem o custo de aquisição de muitos bens, sobretudo os duráveis de maior valor, como automóveis e eletrodomésticos, por exemplo, que costumam depender de financiamento.
Por fim, vale destacar que a desaceleração da atividade econômica tende a ser potencializada pelo menor ritmo de expansão da política fiscal e pela desaceleração do mercado de trabalho em 2025.
Contenção dos gastos públicos
A CNI pontua que, embora o cenário seja de desaceleração da economia e, dessa forma, de queda da inflação nos próximos meses, é preciso ir além e assegurar que a política fiscal contribua mais para o controle inflacionário, de modo que ele seja alcançado com taxa de juros mais baixas. Nesse sentido, é preciso aprofundar medidas que busquem conter os gastos públicos, tanto para garantir o cumprimento da meta de resultado primário, neste e nos próximos anos, como para estabilizar a dívida pública.
O menor ritmo de crescimento das despesas, com o consequente fortalecimento da sustentabilidade fiscal, cumpre papel essencial no controle da inflação, seja via contenção da demanda, seja via apreciação do real.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, reforçou que a prosperidade econômica passa, necessariamente, por um pacto entre agentes políticos, financeiros, setor produtivo e população.
“A busca pela sustentabilidade fiscal deve ser uma prioridade de todos os poderes públicos constituídos e de toda a sociedade brasileira. Sem o comprometimento de todos, o Brasil seguirá pecando pela baixa sintonia entre política monetária e política fiscal, o que sobrecarrega a Selic e o custo do crédito, variável-chave para viabilizar investimentos e sustentar ritmo mais vigoroso de crescimento econômico”, defende Alban.
Além de reforçar as medidas de equilíbrio fiscal, o Banco Central deve trabalhar para conter a demanda e, consequentemente, desacelerar a inflação, a partir do aumento dos depósitos compulsórios – atualmente, com alíquota de 21% para recursos à vista; 20% para recursos a prazo; e 20% para recursos de depósitos de poupança.
Essa ação, que restringe a demanda por meio da redução da liquidez na economia, é mais vantajosa do que o mecanismo de política monetária contracionista via aumento da Selic, uma vez que, diferentemente dessa modalidade, não pressiona o custo com juros da dívida pública.
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