A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação da Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) consideram acertada a decisão do Comitê de Política Monetária Copom), do Banco Central, de reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual. As entidades, no entanto, defendem a importância de que seja mantido (ou mesmo ampliado) o ritmo de queda dos juros, para que os juros possam alcançar níveis compatíveis com a retomada do crescimento.
“Destacamos que, mesmo com essa decisão, os juros no Brasil continuam em patamares extremamente elevados (13,25%), com uma taxa real de quase 9%, uma das maiores do mundo”, disse a Fieb, em nota.
No comunicado, a Fieb afirma ainda que a decisão de reduzir a taxa de juros encontra respaldo nos recentes indicadores da economia, principalmente na queda acentuada da inflação. “Entretanto, a manutenção de uma taxa Selic ainda elevada prejudica a retomada dos investimentos e a geração de empregos e renda que foram fortemente impactados nos últimos anos”, afirma.
A Fieb diz ainda que aos poucos, a economia brasileira trilha por um caminho de volta à normalidade, com a valorização da moeda nacional e estabilidade de preços. Ademais, o governo federal está consciente da necessidade de controlar as finanças públicas, algo sinalizado pelo projeto do “Arcabouço Fiscal”, que está prestes a ser aprovado, definitivamente, no Congresso Nacional, e mesmo pela recente melhora do rating do país por diferentes agências de classificação de risco.
“Dessa forma, manter ou ampliar o ritmo de queda dos juros nas próximas reuniões é a decisão correta, uma vez que esse é o principal instrumento para destravar a economia, seja pela ampliação da demanda, seja pelo aumento dos investimentos”, pontua o comunicado da entidade. “Temos a convicção de que a decisão de reduzir incialmente a taxa de juros em 0,5 p.p é um sinal de que há espaço para maiores quedas da Selic nos próximos meses. Portanto, esperamos outros cortes de juros para que o processo de retomada do crescimento da economia seja consolidado”.
CNI
De acordo com o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, mantido o cenário de controle da inflação nos próximos meses, é necessário que os cortes na Selic sejam mais intensos. Antes da reunião do Copom, a taxa de juros estava 4,8 pontos percentuais acima da taxa neutra, aquela não estimula nem desestimula a atividade econômica.
“A decisão foi acertada, uma vez que não compromete o processo de combate à inflação e evita um desaquecimento maior da indústria e da economia. As expectativas de inflação têm passado por sucessivas revisões para baixo e a apreciação da taxa de câmbio, nos últimos meses, também representa mais um elemento positivo para esse cenário de controle da inflação”, avalia Robson Andrade.
A Selic em alta tem comprometido significativamente a atividade econômica em 2023. Na comparação de junho de 2023 com junho de 2022, a produção da indústria de transformação caiu 1,5%. Já o setor de serviços registrou queda de 2% em maio em comparação com dezembro de 2022, na série livre de efeitos sazonais.
Os impactos da Selic alta também são sentidos no mercado de crédito. No primeiro semestre de 2023, na comparação com o último semestre de 2022, as concessões de crédito às empresas caíram 5,2% (queda de 8,0%, em termos reais). Além disso, tem ocorrido aumento nos níveis de inadimplência e, consequentemente, maior provisionamento pelos bancos – também por conta de eventos adversos relacionados a grandes empresas varejistas no Brasil –, o que compromete ainda mais a oferta de crédito.
A indústria entende que a continuidade do ciclo de redução da Selic exige boa coordenação entre política monetária e política fiscal. A expectativa da CNI é que o Congresso aprove, em breve, um novo arcabouço fiscal que consiga estabilizar a dívida pública sem recorrer ao aumento da carga tributária, de modo a contribuir com o processo de cortes na taxa básica de juros.
Por que a Selic deveria cair mais?
Desde fevereiro de 2022, a política monetária encontra-se em terreno contracionista, com a taxa Selic em nível suficiente para desaquecer a atividade econômica e, assim, controlar a inflação. Nos últimos meses, isso ficou ainda mais evidente: o IPCA desacelerou fortemente, chegando a 3,2% no acumulado em 12 meses até junho. Além disso, o IPCA-15, que visa antecipar o resultado da variação dos preços no mês, apresentou queda de 0,07% em julho, reforçando a tendência favorável da inflação.
Ainda, as expectativas de inflação têm passado por sucessivas revisões para baixo, conforme indica o Relatório Focus, do Banco Central. Para 2023, a inflação esperada caiu para 4,8%; enquanto para 2024 e 2025, caiu para 3,9% e 3,5%, respectivamente.
Com essa queda das expectativas de inflação para os próximos 12 meses, mesmo com a Selic estável em 13,75% ao ano, a política monetária estava se tornando cada vez mais contracionista. A taxa de juros real que em janeiro estava em 7,6% ao ano, se encontrava em 9,3% ao ano, antes da reunião, o que representam 4,8 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica.
A apreciação da taxa de câmbio nos últimos meses também representa mais um elemento positivo para esse cenário de controle da inflação, especialmente sobre os preços dos grupos Produtos Industriais e Alimentos.
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