A recente decisão do Copom de elevar a taxa Selic para 15% ao ano soa, no mínimo, incompreensível. Não há justificativa técnica convincente, nem coerência econômica nessa guinada que isola ainda mais o Brasil do cenário global. É a sétima alta consecutiva e com ela, voltamos a um patamar de juros que não víamos desde 2006.
Para a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), a medida desconsidera fatos objetivos: a inflação desacelera de forma consistente, os indicadores fiscais vêm melhorando, e a indústria nacional mal respira, sufocada por custos em alta e crédito cada vez mais distante.
Com uma inflação acumulada de 5,32% em 12 meses e trajetória de queda, manter uma taxa real de juros acima de 9% ao ano beira o absurdo. Trata-se de uma das mais altas do mundo. E isso em um país que precisa urgentemente voltar a crescer, investir e gerar empregos.
O Banco Central, ao insistir numa política monetária desconectada da realidade econômica, não apenas mira no alvo errado, ele acerta em cheio na produção, nos investimentos e no mercado de trabalho. É como pisar no freio enquanto o motor tenta engrenar.
A comparação internacional é inevitável e, também, desconcertante. Nos EUA, os juros flutuam entre 4,25% e 4,50%. Na Europa, o ciclo de cortes já começou, com taxas em torno de 2,15%. E o Brasil? Continua refém de uma ortodoxia antiquada que impõe um custo social altíssimo.
Manter a Selic em 15% não é apenas um erro técnico. É uma decisão política, que recai sobre os ombros de quem produz, trabalha e empreende. É uma escolha que adia o futuro.
A Fieb deixa claro: o atual patamar de juros é um entrave deliberado ao desenvolvimento nacional. O Brasil precisa virar essa chave. O momento de iniciar um ciclo de cortes é agora porque esperar mais é custar mais caro.
Um marco da indústria baiana
Há exatos dez anos, a gigante alemã Basf deu início a um marco para a indústria química nacional: o Complexo Acrílico no Polo de Camaçari.
A planta representou um dos maiores investimentos da companhia fora da Europa. Cerca de 500 milhões de euros, o equivalente hoje a R$3,3 bilhões.
Mas o impacto dessa operação vai muito além dos números.
Com cerca de 500 empregos diretos, a unidade é responsável pela produção de ácido acrílico, acrilato de butila e polímeros superabsorventes (SAP) — insumos estratégicos para setores essenciais da economia.
Cada fralda, cada lata de tinta, cada obra civil que carrega esses componentes carrega também o peso de uma estrutura industrial sofisticada e integrada ao desenvolvimento regional.
O complexo é um símbolo da nova indústria: eficiente, sustentável e globalmente conectada.
Aos 10 anos, o Complexo Acrílico reafirma seu papel: estratégico, inovador e fundamental para o presente e o futuro da indústria brasileira.
Solução logística ou promessa d’água?
O Governo Federal anunciou a criação da Nova Hidrovia do Rio São Francisco, uma ambiciosa proposta de logística que pretende conectar o Sudeste ao Nordeste.
São 1.371 km de vias navegáveis, entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA)/Petrolina (PE). A expectativa é ousada: 5 milhões de toneladas movimentadas já no primeiro ano de operação.
As cargas previstas incluem insumos agrícolas, grãos, gesso, calcário, bebidas, minério e sal.
Mais do que transportar cargas, o projeto busca integrar modais, conectando a hidrovia a ferrovias e rodovias, para garantir mais eficiência e reduzir a dependência do transporte rodoviário.
No papel, tudo parece caminhar rumo à tão desejada logística sustentável e barata.
Mas o histórico nacional em infraestrutura fluvial impõe cautela: será que o projeto sairá das promessas para a prática?
Sem planejamento sólido, integração real e manutenção constante, o Velho Chico corre o risco de virar apenas mais uma rota anunciada com pompa e pouco impacto.
Liberaram, mas nem tanto…
O Ministério dos Transportes resolveu antecipar a tão esperada liberação da ponte sobre o Rio Jequitinhonha, em Itapebi.
Mas, calma lá: só veículos leves e de serviços essenciais estão liberados. Ônibus e caminhões? Continuam proibidos.
Ou seja, nada de resolver de verdade o gargalo logístico. Pelo menos por enquanto.
A medida foi vendida como uma forma de aliviar o vai-e-vem típico dos festejos juninos.
Mas convenhamos: isso é um remendo emergencial num problema que já deveria estar resolvido há tempos.
O Dnit correu para dar conta do básico: tirou o asfalto, limpou drenagem e desenhou um plano de tráfego que depende do famoso sistema “Pare e Siga”, com a presença das forças de segurança.
Nos próximos 15 dias, a ponte será monitorada como paciente em UTI.
Só depois disso vão decidir se liberam mais tráfego.
Até lá, seguimos no improviso como se fosse normal uma das principais ligações da região viver no modo “em obras eternas”.
São João
A Secretaria de Turismo da Bahia está em contagem regressiva — e cheia de expectativas — para mais uma temporada histórica de São João.
Am 2024, a festa arrastou 1,7 milhão de turistas e injetou R$ 2 bilhões na economia do estado. Para este ano, a projeção sobe para 1,8 milhão de visitantes e R$ 2,3 bilhões em receita.
Mas por trás dos números animadores, fica a pergunta: a infraestrutura está à altura dessa movimentação?
Em maio, a Setur fez seu dever de casa e foi vender o São João baiano em São Paulo, Rio, Brasília e Belo Horizonte.
A estratégia é clara: atrair gente, movimentar hotéis, lotar restaurantes e fazer o dinheiro circular.
Só que, enquanto o marketing trabalha bem, o básico nem sempre acompanha.
Estradas esburacadas, aeroportos regionais subutilizados, sinalização precária e serviços públicos sobrecarregados viram parte da experiência turística e não no bom sentido.
Bahia dispara no turismo internacional
A Bahia está brilhando no radar do turismo internacional. Entre janeiro e maio, mais de 91 mil estrangeiros desembarcaram em solo baiano, num salto impressionante de 62,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
Esse desempenho coloca o estado como o terceiro maior crescimento percentual do país, superando inclusive a média nacional.
À frente da Bahia, apenas dois destinos do Sul: o Rio Grande do Sul, com um avanço de 94%, e Santa Catarina, com 67,3%. Os dados são do Ministério do Turismo.
Mais do que um bom número, o dado reforça um sinal claro: a Bahia está voltando a ocupar o lugar de destaque que sempre teve no imaginário dos turistas do mundo.
O dado acende um alerta positivo: a Bahia voltou ao radar global. Mas fica a pergunta: estamos prontos para transformar esse interesse em permanência, negócios e retorno sustentável?
Rota estratégica
A partir de 29 de setembro, a Gol amplia sua malha aérea com o lançamento do voo Salvador–Petrolina.
Com três frequências semanais operadas por aeronaves Boeing 737, com capacidade para 186 passageiros, a nova rota vai além da simples comodidade: representa um importante estímulo para o agronegócio e o turismo regional.
Petrolina, que faz divisa com Juazeiro, é um dos principais centros produtivos do agronegócio nacional.
O acesso aéreo mais ágil facilitará a circulação de insumos, profissionais e investidores, fortalecendo a cadeia produtiva que é vital para o desenvolvimento econômico da região.
Além disso, a ligação direta impulsiona o turismo no Vale do São Francisco.
A iniciativa reforça a importância de investir em infraestrutura de transporte como ferramenta estratégica para integrar mercados, potencializar setores-chave e promover o crescimento sustentável da Bahia.
Recorde de público
A 19ª edição da Bahia Farm Show terminou sábado passado deixando um recado claro: o agro baiano está mais forte e conectado do que nunca. Foram 162.370 visitantes circulando pelo evento, um número que supera o recorde anterior e reforça o peso da feira como uma das maiores vitrines do setor no país.
Com 434 expositores e mais de mil marcas representadas, o público teve acesso ao que há de mais moderno em inovação e tecnologia agrícola.
Mas não foi só o volume que impressionou: mais de 100 caravanas reuniram desde pequenos produtores e estudantes até idosos e pessoas com deficiência, revelando o alcance democrático da feira.
A coluna A SEMANA é publicada aos sábados. O espaço traz um resumo das notícias mais importantes da semana, sempre com um tom mais crítico e analítico. Além da indústria, aborda temas como o comércio, turismo, agro, tecnologia, política, educação, dentre outros. O objetivo é contribuir para formar opinião, esclarecer fatos, desmentir outros, e deixar você ainda mais informado.
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