A Bahia parece ter feito um pacto com o descaso quando o assunto é infraestrutura. São tantas histórias mal contadas que fica difícil escolher a mais absurda. A já desgastada concessão das BRs 324 e 116, por anos nas mãos da inoperante ViaBahia, é apenas a ponta do iceberg.
Há também a eterna promessa do Porto Sul, da Fiol e o abandono completo do trecho baiano da Ferrovia Centro-Atlântica, que a VLI fingiu que não viu.
Mas o que já é ruim, o governo federal parece empenhado em piorar. Prova disso é a interdição total da ponte sobre o Rio Jequitinhonha, no início de maio.
A estrutura, ameaçada de desabar, foi interditada pelo Dnit como se o risco tivesse surgido da noite para o dia.
Não houve manutenção preventiva? Ninguém viu o colapso se formando? E agora: quem paga a conta do prejuízo?
O impacto é devastador: mais de 70 municípios com prejuízos econômicos em cadeia.
Uma região com força agrícola, industrial e turística pena com uma logística bizarra e o desabastecimento de combustíveis é só o começo.
As rotas alternativas? Precárias, longas, perigosas.
Uma humilhação diária para quem depende da estrada.
Está na hora do governador Jerônimo Rodrigues parar de aceitar o papel de coadjuvante e cobrar, com firmeza, do Ministério dos Transportes.
A Bahia está sendo tratada como um rodapé no mapa da infraestrutura nacional.
E isso precisa acabar.
A ponte da esperança ou da desconfiança?
O Governo da Bahia e a concessionária responsável pela Ponte Salvador-Itaparica assinaram mais um contrato. Agora, promete-se o “avanço do projeto” e, finalmente, o início das obras — uma promessa que já dura mais de uma década.
Na teoria, os próximos passos são técnicos: elaboração do projeto executivo e mobilização dos canteiros de obras em Salvador e Vera Cruz.
Na prática, a grande pergunta persiste: o cronograma será cumprido desta vez?
O novo acordo estabelece um prazo máximo de 12 meses para o início das obras.
Mas a história recente da Bahia com grandes empreendimentos ensina a desconfiar de prazos e promessas.
Apresentado como vetor de desenvolvimento e motor de distribuição de renda, o sistema rodoviário promete gerar sete mil empregos e impulsionar a economia estadual.
O contrato está assinado. Agora é a realidade que precisa entrar em campo.
Mercado automotivo acelera
Nem o juro alto, nem o aumento do IOF conseguiram segurar o mercado automotivo da Bahia. Em maio, o estado bateu recorde: foram emplacados 23.063 veículos, alta de 6,29% sobre abril e impressionantes 23,36% em relação a maio de 2024.
O destaque?
As motos, que seguem liderando com folga.
Só no último mês, 13.935 unidades ganharam as ruas, crescimento de mais de 30% na comparação anual, segundo levantamento da Fenabrave.
O recado é claro: duas rodas continuam sendo solução de mobilidade e renda para milhares de baianos.
Outros segmentos também mostraram fôlego: picapes (+21,74%), automóveis (+14,99%) e até caminhões (+4,55%) subiram.
Em contrapartida, máquinas agrícolas e ônibus ficaram para trás, com quedas de 27,71% e 19,67%, respectivamente.
A leitura é direta: o consumo está se rearranjando.
A Bahia compra mais veículos leves, flexíveis e acessíveis e menos itens de uso coletivo ou voltados ao campo.
Um reflexo da economia que se adapta, mesmo quando o crédito tenta apertar o cinto.
Privatização de aeroportos
O governo federal se prepara para leiloar dez aeroportos no Nordeste, com expectativa de arrecadar cerca de R$800 milhões.
O edital, em modelo simplificado, será lançado na segunda quinzena de junho pelo Ministério de Portos e Aeroportos.
Na Bahia, três terminais fazem parte do pacote: Guanambi, Lençóis e Paulo Afonso.
Mais do que ativos logísticos, esses aeroportos estão inseridos em regiões estratégicas, com forte apelo turístico, potencial em energias renováveis e destaque na produção mineral.
A proposta da privatização vai além da arrecadação.
A iniciativa busca atrair operadores capazes de modernizar a infraestrutura, ampliar a conectividade aérea e impulsionar o desenvolvimento econômico das regiões atendidas.
Fecomércio reage ao aumento do IOF
A Fecomércio BA reagiu com preocupação ao anúncio do governo de aumento das alíquotas do IOF.
Para a entidade, a decisão encarece o custo de empreender, amplia a insegurança jurídica e mina a competitividade.
Com impacto estimado de R$19,5 bilhões, em 2025, e R$39 bilhões em 2026, o reajuste afeta diretamente operações de crédito, câmbio e seguros, com alta superior a 110% no IOF de empréstimos empresariais.
Qual o resultado disso?
Crédito produtivo mais caro e menor capacidade de investimento.
A Fecomércio alerta que medidas puramente arrecadatórias como essa comprometem empregos, travam investimentos e freiam o crescimento.
O IOF, lembra a entidade, é um instrumento regulatório e não uma ferramenta para elevar receita.
A saída?
Reforma do Estado, com corte de gastos e um sistema tributário mais eficiente, competitivo e juridicamente seguro.
Desempenho histórico
A Bahia encerrou a safra de soja 2024/2025 com um marco importante: 8,7 milhões de toneladas colhidas em 2,1 milhões de hectares, com produtividade média de 68 sacas por hectare.
Foi o melhor resultado em três décadas, segundo a Aiba.
Mais do que um recorde, o desempenho sinaliza maturidade tecnológica e gestão eficiente no campo.
Esse avanço reflete o perfil cada vez mais profissionalizado do produtor baiano, que alia produtividade à sustentabilidade e ao uso racional dos recursos naturais.
A agricultura no estado mostra que é possível crescer com responsabilidade, aproveitando o potencial das regiões do Oeste e da Chapada Diamantina como vetores de inovação.
O milho também segue em ritmo forte. Com 105 mil hectares cultivados, a produtividade média estimada é de 187 sacas por hectare, o que deve resultar em cerca de 1,17 milhão de toneladas.
Esse resultado expressivo é fruto de investimentos consistentes em solo fértil, sementes de qualidade e manejo fitossanitário estratégico.
Agro puxa exportações
O agronegócio segue como força motriz da economia baiana. Em abril, o setor respondeu por mais da metade das exportações do estado, movimentando US$579,6 milhões, numa alta de 32% em relação ao mesmo mês de 2024, segundo dados da Faeb.
A soja, mais uma vez, liderou com folga.
Somente esse grão gerou US$263,1 milhões em exportações, crescimento de 47,3% na comparação anual.
O produto representou 45% de todo o valor exportado pelo agro baiano, com a China mantendo-se como principal destino, absorvendo mais de US$170 milhões.
Mas não foi só a soja que brilhou.
O café baiano surpreendeu com um salto expressivo: as exportações passaram de US$9 milhões para US$52,6 milhões.
Os números, divulgados pela Faeb, reforçam a relevância do campo para a balança comercial da Bahia e mostram que o agro, além de resiliência, tem potencial crescente de diversificação e protagonismo no cenário internacional.
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