Em meio à Mata Atlântica preservada de Porto Seguro, no sul da Bahia, a Reserva da Jaqueira se firmou como um modelo de etnoturismo no Brasil. Com 827 hectares de floresta protegida e habitada por cerca de 40 famílias Pataxó, o território é um exemplo de como é possível aliar valorização cultural, preservação ambiental e geração de renda para comunidades indígenas.
Hoje, o turismo é responsável por 80% do custeio da aldeia, que em 2024 recebeu mais de 30 mil visitantes entre famílias, estudantes, professores, ativistas e turistas de diversas partes do mundo. “No início, quase não tínhamos brasileiros. Recebíamos muitos estrangeiros. Hoje, isso mudou bastante”, conta Juari Pataxó, presidente do Instituto Pataxó de Etnoturismo, organização criada para promover o desenvolvimento sustentável da aldeia.
A experiência na Jaqueira vai muito além de um passeio. Guias indígenas conduzem os visitantes por trilhas interpretativas, apresentam danças, rituais, a culinária, a casa de memória, viveiros de mudas, artesanato e até hospedagem em pleno coração da floresta. É uma verdadeira imersão nos saberes e tradições Pataxó.
“Fazemos treinamento de jovens, usamos a tecnologia a nosso favor, captamos recursos por editais e revertendo tudo em ações de afirmação da cultura, meio ambiente e sustentabilidade”, explica Juari.

Parceria de duas décadas
Parte importante dessa trajetória de consolidação do etnoturismo vem do apoio de parceiros institucionais. A Veracel Celulose, que atua na região há décadas, tem sido um dos principais apoiadores da Reserva da Jaqueira desde sua criação, no início dos anos 2000.
“A parceria com a Veracel foi desde o início da Reserva da Jaqueira. E esta parceria, de 2000 pra cá, nunca perdemos. A Veracel foi um dos primeiros apoiadores desse projeto e depois foi abrindo as portas para outros parceiros. Hoje, é um dos nossos maiores apoiadores”, afirma Juari.
Os pataxós vivem em diversas aldeias no Extremo Sul da Bahia e norte de Minas. Hoje, a Bahia tem em torno de 25 mil pataxós. São 48 aldeias localizadas em Porto Seguro, Alcobaça, Itamaraju, Santa Cruz Cabrália e Prado
Entre as ações apoiadas pela empresa estão melhorias de infraestrutura, doações de materiais escolares e, principalmente, o incentivo a eventos culturais. A Veracel apoia, por exemplo, o Aragwaksã – o principal festival do povo Pataxó – por meio de leis de incentivo.
A festa, que significa “lugar sagrado de grande conquista”, acontece anualmente na Jaqueira e reúne centenas de indígenas de diferentes etnias para celebrar a ancestralidade com danças, casamentos tradicionais, música e culinária.
Além disso, a Veracel também investe na realização dos Jogos Indígenas Pataxó, iniciativa que fortalece os laços comunitários e o orgulho cultural dos povos originários. Recentemente, a empresa contratou uma consultora para ajudar na elaboração de um projeto cultural, aprovado pela Lei Rouanet, o que viabiliza novos aportes de recursos, tanto da própria Veracel quanto de outras empresas interessadas em contribuir com a causa.

Pioneirismo e referência nacional
A Aldeia da Jaqueira foi uma das primeiras do país a adotar o etnoturismo como modelo de sustentabilidade. Por muitos anos, a prática foi desencorajada pela própria Funai, que temia os efeitos negativos do turismo nas comunidades indígenas. “Achavam que traria destruição, prostituição, bebidas e drogas. Mas a nossa experiência provou o contrário”, afirma Juari.
Hoje, mais de 100 comunidades indígenas no Brasil já desenvolvem atividades de etnoturismo, e a Jaqueira se tornou referência, inclusive prestando consultoria a outras aldeias da região que desejam trilhar o mesmo caminho.
A comunidade integra a Rede Nacional de Etnoturismo, iniciativa do Ministério do Turismo, e já recebeu diversos prêmios pela inovação e impacto social do projeto.
“O turismo garante a sustentabilidade do projeto. Somos pioneiros e mostramos que é possível preservar nossa cultura, gerar renda e manter a floresta em pé. A parceria com a Veracel tem sido fundamental para isso”, resume Juari Pataxó.
Luta das mulheres
Siratã Pataxó, cacique da Aldeia da Jaqueira, diz que a reseva é fruto da luta de mulheres. “Eu sou cacique, mas quem manda aqui são as mulheres”, diz ele, que tem 36 anos e possuí licenciatura em História. “A Reserva da Jaqueira é um espaço onde a gente procura preservar nossa cultura, crenças e tradições. É um ambiente onde a gente trabalha a parte espiritual, um lugar onde a gente cuida do bom viver do nosso povo”, diz ele.

- Durante uma semana, o jornalista Geraldo Bastos, editor do IndústriaNews, percorreu mais de 1.600 quilômetros entre a Bahia e o Espírito Santo para conhecer de perto duas gigantes do setor florestal brasileiro: Veracel e Suzano. A viagem incluiu visitas às unidades industriais de Eunápolis e Mucuri, onde foi possível acompanhar o processo produtivo da celulose e do papel, além de entender como essas empresas têm investido em sustentabilidade, inovação e impacto social. O jornalista também conversou com os principais executivos das companhias, que compartilharam visões sobre o presente e o futuro do setor. Ao longo dos próximos dias, o IndústriaNews irá publicar uma série especial de reportagens revelando os bastidores dessa imersão no setor florestal, mostrando os impactos, os avanços e as contradições que movem uma das cadeias mais estratégicas da economia baiana.
- O jornalista Geraldo Bastos visitou as unidades da Veracel e da Suzano, no Extremo Sul da Bahia, a convite da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf)
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